Ford Escort, primeiro carro mundial da marca vendido no Brasil, aparece em seriado da Netflix na versão XR3i, que rivalizava com Volkswagen Gol GTi e Chevrolett Kadett GSi
Black Doves
Gosta de tramas de espionagem e quer economizar as pilhas do controle remoto na busca? Então aí vai uma dica: “Black Doves, lançado na Netfilx em dezembro. A série se passa em Londres, entre 2014 e 2017, e conta a história de Helen Webb (Keira Knightley), uma mãe quase dedicada, perspicaz e que, de quebra, é espiã da obscura organização Black Doves.

Quando seu amante Jason (Andrew Koji) é assassinado, a espiã chefe, Sra. Reed (Sarah Lancashire) chama Sam (Ben Whishaw), um velho amigo de Helen, para protegê-la. Helen e Sam embarcam numa missão para descobrir quem matou Jason e são tragados para uma grande conspiração geopolítica que envolve a Inglaterra, a China e os Estados Unidos.
Mesmo que você não goste do gênero, a série “vale o ingresso” pela direção de fotografia e pela composição. O show cinematográfico à parte é garantido pelos takes filmados com câmeras e lentes Panavision – referência em equipamentos cinematográficos desde 1950.

Ford Escort XR3i no filme
Os protagonistas estão ótimos, mas para os amantes dos carros quem rouba a cena em meio a Land Rovers e BMWs é um “simpático” Ford Escort XR3i dourado, marrom metálico ou algo do tipo. O XR3i aparece com volante do lado direito, afinal é Inglaterra, e rodas de liga leve de quatro círculos (trevo da sorte) iguais as do modelo 1984 vendido no Brasil.
Na verdade, é quase impossível precisar a cor exata do hatch já que grande parte das imagens são subexpostas – um deleite aos amantes da cinematografia.

O XR3i só apareceu no Brasil em 1993, nada menos do que 11 anos de atraso em relação ao homônimo europeu. Além da repaginada no visual, e do interior totalmente novo, pela primeira vez o modelo trazia um motor com injeção eletrônica. O propulsor usado era um AP 2.0 8V, o mesmo que equipava o Volskwagen Gol GTI, e desenvolvia 116cv.
História
O Escort foi criado em 1960 pela divisão Anglo germânica da Ford. Na Europa, a primeira geração foi produzida de 1968 a 1974 com um estilo arredondado, em voga na ocasião. A tração era traseira e debaixo do capô havia motores de 1.1 e 1.3 litro. Em 1969, vieram as versões RS 1600, com 120cv, e RS 2000, com motor 2 litros de 100cv, em 1973.
A segunda geração do hatchback saiu das linhas de montagem entre 1975 e 1979, e foi comercializada nas versões Ghia e Mexico – ambas com motores 1.6. Foi a mesma época em que surgiram as configurações esportivas RS 1800 e RS 2000. O prestígio da família RS rendeu ao Escort a posição de Safety Car na Fórmula 1, em 1992 e 1993.
Nos GPs da França e da Grã-Bretanha desses anos o modelo utilizado foi um Ford Escort de quinta geração, com motor 2.0, quatro cilindros, longitudinal, que gerava 224cv e era preparada pela Cosworth. A versão apimentada foi produzida entre 1992 e 1996 com tração integral, atingia os 240 km/h e só apareceu na pista da edição 93 da etapa britânica na volta 32, graças a um acidente provocado por Luca Badoer.

No Brasil
O Escort foi o primeiro carro mundial da Ford a chegar ao Brasil, em 1983, já na terceira geração. O carro ficou em linha durante 30 anos e foi comercializado até 2003. A MK3 era composta pelas versões L, GL, GHIA, XR3 e XR3 Cabriolet, que eram montadas com motores CHT 1.3 (importado) ou CHT 1.6.
A quarta geração chegou em 1986, como modelo 1987, e a família cresceu, ampliando a oferta de opções com as variantes Hobby, L, L Série Especial, LX, GL, GHIA, XR3, XR3 Cabriolet e CHT 1.0 HOBBY. Em 1989, chegou o mítico XR3 equipado com motor AP 1.8, época em que a Autolatina já existia.

Seus sucessores, de quinta geração, fabricados entre 1992 e 1995, abandonaram os propulsores 1.0 e 1.3 CHT e assumiram apenas motores CHT 1.6 (L), AP 1.6 (L), AP 1.8 (L, GL, GLX, GHIA) e AP 2.0 (GHIA, XR3 e XR3 Cabriolet). A sétima e última geração comercializada no Brasil trouxe novos motores Zetec 1.8 de 16v e Zetec Rocam 1.6 de 8v.
Todas as versões eram equipadas com câmbio manual de quatro ou cinco marchas, motor transversal e tração dianteira. E também havia versões sedã e perua (Wagon). Mas acabou descontinuado para a chegada do Focus em meados dos anos 2000.

Como curiosidade, o Ford Escort RS preparado pela Cosworth nunca foi vendido no Brasil, mas algumas poucas unidades foram trazidas ao país por importação direta. No Brasil, a partir de 1996, o hatch ganhou o apelido de “Sapão” por causa da frente arredondada e avantajada entrada de ar frontal.
O Ford Escort RS foi produzido entre 1992 e 1995, para disputar provas de rali. O carro não contava com itens convencionais como vidros elétricos, ar-condicionado e rádio, para abrir espaço para recursos exclusivos de competição.
De série, a RS tinha tanque de combustível extra, pneus de uso misto, reforços estruturais na carroceria, bancos com formato concha, volante de três raios, cinco de segurança com cinco pontos e spoiler na traseira.

Pioneiro
Entre as qualidades do Escort destacavam-se a suspensão independente nas quatro rodas, os amortecedores pressurizados que vieram em 1986 e os tanques de combustível em polipropileno, de 1987. O hatch também foi pioneiro ao lançar carrocerias de duas e quatro portas, simultaneamente, em 1983.
Com a chegada do Escort XR3, em 1985, a montadora iniciou a produção de conversíveis em solo nacional, algo que não acontecia desde 1970, com o fim da produção do Volkswagen Karmann Ghia. A iniciativa motivou as demais fábricas a lançarem o Volkswagen Gol GT, Fiat Uno 1.5R e Chevrolett Kadett GS, para sorte dos entusiastas.
